Alta na gasolina: Os produtos do dia a dia que podem ficar mais caros com o aumento nos combustíveis |
O aumento de 5,18% no litro da gasolina e de 14,26% no valor do diesel não impacta apenas donos de veículos. Setores importantes da economia deverão repassar a alta dos combustíveis a seus produtos nos próximos meses. Preços em áreas cruciais para o dia a dia do brasileiro como transporte, alimentação, vestuário e construção civil devem ter elevação, agravando a pressão inflacionária dos últimos meses. Bolsonaro chegou a defender até mesmo a criação de uma CPI para investigar os diretores e conselheiros da Petrobras depois do novo reajuste no fim de semana. Simão Silber, professor de economia na USP e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), avalia que "hoje, não só no Brasil, houve um retorno para um fenômeno que ocorreu nos anos 1970 que ficou conhecido como 'estagflação': uma inflação mais alta e um nível de produção mais baixo com o aumento de custos". Veja abaixo como os reajustes para as distribuidoras podem se traduzir em aumentos em quatro setores do dia a dia dos brasileiros. TransportesO efeito mais direto ocorre, naturalmente, nos preços dos fretes rodoviários, passagens de ônibus urbanos e interestaduais, de avião e da viagem em aplicativos de transporte — além do valor gasto pelos motoristas de carros de passeio para encher os tanques. "Os valores serão reajustados e deverão vir com reajuste relativamente salgado. Começa por aí", diz Inhaz, do Insper. Silber, da USP e da Fipe, diz que mesmo que os valores de passagens de ônibus, por exemplo, não tiverem aumento por regulação municipal, o impacto vem. "Nós estaremos pagando porque a prefeitura terá que subsidiar o transporte urbano, colocar mais dinheiro nesse setor em vez de outras áreas ou atividades", analisa.
Alimentação"O custo de tudo que a gente consome que necessita de deslocamento também vai aumentar. Estamos, por exemplo, falando de alimentos. Vai ficar mais caro distribuir, mandar o alimento de um lado para outro. Logo, o custo agregado do produto sobe, o custo para o produto chegar à mesa do trabalhador", afirma Inhaz. "O setor de alimentação é bem sensível a esses aumentos de preço de combustível." Outra influência indireta em produtos de primeira necessidade como arroz, feijão e carne se deve ao fato de que muitos fertilizantes e defensivos agrícolas são derivados do petróleo. "Já na hora de plantar se sente essa influência", diz Silber. A produção agrícola deverá ser ajustada a essas novas condições. "Porque o produtor vai economizar no uso do fertilizante. O insumo ficou mais caro e aí a produtividade cai. Mais uma razão pela qual o preço vai subir e prejudicar uma parcela muito grande da população que já enfrenta uma enorme insegurança alimentar", afirma. Ele também aponta que custos com armazenamento, quando algum produto necessita tratamento especial para calor ou iluminação, também sofrem impacto. VestuárioEnquanto Juliana Inhaz aponta a influência dos custos de logística para o deslocamento de produtos do vestuário, Silber menciona algumas matérias-primas que podem impactar alguns itens específicos. "Por exemplo, o náilon é petróleo. E veja a meia-calça. Com o frio, cresceu a demanda pelo produto, que não tem produção no Brasil. O fio é derivado do petróleo e a sua produção tem sido impactada pela Guerra da Ucrânia", diz o economista da USP e da Fipe. Construção civilMaterial de construção como tijolos e areia dependem muito dos transportes e podem ser influenciados pela subida nos custos de deslocamento, diz Silber. Ele também lembra que esse setor já vem sendo pressionado pelo aumento dos juros pelo Banco Central, medida utilizada para conter tendências inflacionárias. Fonte: BBC Brasil
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